domingo, 29 de janeiro de 2012

O sorriso sem graça e sem dente da Cidade Sorriso

Viver em Niterói cada vez mais se aproxima de uma violação dos direitos humanos passível de denúncia à Corte Interamericana de Direito Humanos. Não bastassem os perigos causados pela violência das metrópoles, o niteroiense, melhor, simples morador de Niterói, não é tratado com humanidade ou conforto quando utiliza os meios de transporte, nem com civilidade quando trafega pela via pública.
Há alguns anos, os canteiros de obras, espalhados por toda a cidade, símbolo do progresso e de mais pagamento de IPTU, tem provado a tese de muitos, NÃO HÁ LUGAR PARA MAIS GENTE. Evidentemente, não será mais possível se mover, se não houver responsabilidade da prefeitura em coordenar todo este progresso com medidas que tornem a cidade um lugar decente e digno, preparado para atender todas estas demandas da população, tais como transporte, estacionamento e saneamento básico.
Diariamente, o morador de Niterói vê o mau uso do dinheiro público e da tarifa pública. Os preços dos ônibus e das barcas são avassaladores, quando tomado por contrapartida os serviços prestados. O meio aquaviário parece desconhecer que transporta gente e não carga, que marcha ao som de “Vida de Gado”. Mas não é só. As temperaturas nas embarcações, principalmente após o pôr do sol, são comparáveis a dias de verão, com o sol a pino, nas praias ensolaradas. Além de tudo, a concessionária desconhece o sentido de pontualidade e o volume da procura pelo serviço nos horários chamados de ”RUSH”, demonstrando o despreparo, o que causa tanta revolta aos usuários. A ganância é tanta que as barcas só saem completamente lotadas, com pessoas em pé e amontoadas. Nem coisas devem ser tratadas desta forma. O meio de transporte, necessário para se chegar em casa ou para ir ao trabalho, beira a própria tortura.
Contudo, o sofrimento do morador de Niterói não se limita às Barcas S.A.. A passagem dos ônibus na cidade é absurda levando em consideração as distâncias. Niterói, é inúmeras vezes menor que o Rio de Janeiro, e paga valor similar de tarifa, sem retribuição alguma em conforto. Raras são as linhas que possuem ar condicionado, pessoas novamente ficam amontoadas e em pé com freqüência. As linhas intermunicipais, principalmente as que cruzam a Ponte Rio - Niterói, traduzem o puro descaso. O niteroiense que trabalha ou estuda no Rio de Janeiro é currado todos os dias em transportes quentes e lotados. As concessionárias de ônibus são incapazes de notar o giro das roletas? Ou só ouvem os sons das caixas registradoras?
O projeto da linha 3 do Metrô que visa a facilitar o acesso de diversas cidades da região metropolitana é uma catástrofe. A linha 3 não tem objetivo algum de ser interligado às linhas de metrô já existentes na capital. Como os usuários desta nova linha chegarão ao outro lado da baía? A nado? Ou utilizarão estes precários meios de transporte que possuímos hoje? Pobres usuários. A linha 3 trará mais desrespeito aos usuários, reafirmando o ciclo vicioso nos atuais pontos de estrangulamento.
Infelizmente, os lamentos dos moradores da cidade não se limitam a depender dos transportes públicos. Trafegar na cidade de carro gera inúmeros infortúnios. Flanelinhas ilegais extorquem e constrangem aqueles que querem parar seus carros na via pública, enquanto guardas nada fazem. É notório que ruas como Moreira Cesar, Gavião Peixoto, Miguel de Frias e todas da orla de São Francisco estão sujeitas a esta prática criminosa disfarçada de inocente.
Mas não é tudo, impera na cidade a péssima mania do “jeitinho”, pode-se tudo, desde que seja “rapidinho” ou “só uma vezinha“. É permitido, vai lá! Pode-se parar em uma das duas únicas faixas para fazer compras, visitar um amigo, conversar com alguém na rua, nem é necessário ligar o pisca - alerta (não que ele fosse fazer alguma diferença), prática normal tanto na Estrada para Engenho do Mato como no miolo de Icaraí. Não se esqueçam das buzinadas quando o sinal acaba de abrir.
Por inércia local, Niterói é conhecida pela seguinte frase “Visite Niterói e ganhe uma multa”, entretanto, os malandrinhos que cismam em parar o trânsito por “só um minutinho” não recebem, no mínimo, multas com a frequência que mereciam. Na verdade, quem ganha alguma coisa é o que fica parado devido àquele que estacionou irregularmente, e o prêmio é um sorriso, símbolo da cidade ou, no máximo, ou uma desculpa sem sentido. Aqui se recebe multa nas situações mais inusitadas, mas não nas mais merecidas
Não é possível esquecer a contribuição, única e exclusiva da Prefeitura. A Secretaria de Trânsito jamais pensou - ou se pensou e não fez, ao menos é incompetente - no óbvio, como sincronizar os sinais de trânsito. O que, por conseqüência, por exemplo, torna a vida de quem pretende cruzar a Avenida Roberto Silveira, Marquês de Paraná e Jansen de Melo verdadeiros infernos com direito a “acelera, freia e para”.
Hoje olho Araribóia e sei que ele dá as costas para a cidade para não chorar, tamanha vergonha que sua terra deve lhe causar. Maculam-se todos os sonhos que ele deve ter planejado intuindo um futuro melhor. Provavelmente, o índio pensa em alguma forma de sair dali, que não seja de barca, ônibus ou carro. Talvez ele vá nadando ou, simplesmente, andando, para onde quer que ele vá, sei que ele chegará antes de todos nós, pois ainda dependemos destes péssimos serviços públicos para chegarmos em casa.